Homossexual há mais de 35 anos, Moacir luta contra o preconceito |
Diante de tantas datas festivas no calendário, 28 de junho chama a
atenção. Não só pelo fato de ser comemorado o dia do Orgulho Gay, mas
por trazer à tona questões relacionadas à aceitação da sociedade em
relação aos homossexuais. O preconceito é confirmado através de dados,
os quais ainda não abrangem todos os casos.
Segundo o grupo Coletivo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis, Transexuais e Transgêneros) de Maringá, no último ano na
região, foram 47 adolescentes expulsos de casa por serem homossexuais;
39 casos de agressão; 13 tentativas de suicídios de adolescentes e três
suicídios. Já nos últimos três anos, foram oito travestis assassinados.
Em 2011, conforme Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais
divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), responsável por coletar dados
nacionais sobre homofobia, 266 homossexuais foram assassinatos no país.
Desse total, 162 eram gays, 98 travestis e sete lésbicas, sendo que 4%
tinham idade inferior a 18 anos e 46 % menos de 30 anos.
O Presidente do Coletivo LGBT, Luiz Modesto, frisa que dados como
estes colocam o Brasil como o país mais intolerante à homossexualidade
se comparado a países onde se relacionar com alguém do mesmo sexo é
considerado crime com pena de morte. “O índice de morte por homofobia
no Brasil é cinco vezes maior que no Irã”, diz Modesto.
Não há um motivo único que explique tantos casos de violência e de
preconceito. Para Modesto, algumas posturas de instituições e da
sociedade, é que fortalecem a homofobia. Para mudar esse cenário,
iniciativas são tomadas por grupos LGBT procurando tratar da
homossexualidade em todos os setores da sociedade. Um desses exemplos é
o Projeto de Lei nº 122, que tem como função não só a criminalização da
homofobia, mas também sua caracterização. A aprovação do PL colabora
também com a criação de banco de dados específicos de violência,
facilitando o desenvolvimento de ações para combater casos de violência
a esse grupo.
Atitude
Moacir Luiz de Souza tem 46 anos e aos 10 se descobriu homossexual.
Desde então enfrenta a intolerância. “O preconceito começou ali [no
colégio] e para mim foi uma barreira muito grande, porque estava me
conhecendo, eu não tinha a minha personalidade, minha identidade
ainda”, conta.
Souza lembra que, tanto os amigos quanto a família, percebiam que
ele era diferente resultando em um tratamento distinto por parte das
pessoas que o cercavam. Dificuldades como essa foram aumentando com o
tempo, principalmente quando na adolescência - mais precisamente aos 14
anos de idade - se apaixonou por seu primo. “Eu já sabia o que eu era e
tentava esconder da melhor maneira possível”, diz.
Quanto ao seu pai, ao descobrir a opção do filho, ficou revoltado e
muitas pessoas próximas até hoje pedem para que Souza não demonstre
tanto a sua opção sexual. “Eu não vou me esconder de maneira nenhuma.
Eu vou mostrar quem eu sou, e vou mostrar que eu sou um gay que pode
viver no meio da sociedade, sendo uma pessoa trabalhadora. O fato de
você ser homossexual não quer dizer que você não seja honesto”,
ressalta fazendo referência ao fato de ter colocado seu nome para ser
pré-candidato a vereador pelo PSOL, para trabalhar a favor dos
homossexuais. “Nós só vamos conseguir falar de nós sem brigas, sem
agressões, porque de agressão o mundo já está cheio”, destaca.
A homofobia e todo tipo de preconceito, de acordo com Souza, é
decorrente principalmente da ausência de diálogo entre as pessoas e
também a falta de respeito com os homossexuais, que muitas vezes não
são tratados como seres humanos. “[O homossexual] é um ser humano, uma
pessoa como outra qualquer”, ressalta.
http://www.itribuna.com.br/variedades/uma-luta-diaria-contra-o-preconceito-9539